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Foto do escritorPaulo Fabre

Fotografias e memórias

Firenze, Italia.

Revendo algumas fotografias das últimas férias, quando eu e minha família andamos sob o sol quente e dourado do verão italiano, não deixo de pensar que um punhado de imagens em branco e preto são quase tudo o que eu trouxe daqueles dias em Florença.

Abro o Instagram e lambo a tela do celular com os dedos, procuro estas cidades nas hashtags e me deixo ser soterrado pela avalanche visual de instantâneos gerados num dos lugares dos mais visitados do mundo. Depois de alguns meses, já não encontro nelas o verão, mas o fim do outono e isso importa apenas para influencers mostrarem seus looks, minuciosamente escolhidos para encontrarem outros tantos iguais diante do mesmo fundo temático.

Sinto-me um rebelde com uma câmera analógica fabricada nos anos 1970, fotografando com filme e revelando à mão, as imagens das férias. Ao mesmo tempo, aponto o dedo de volta e penso ser um impostor de mim mesmo, sucumbindo à praticidade de ver as fotografias digitalizadas na tela do computador, derrotado pelo desejo de postá-las na mesma rede que critico.

Lido com este fato rindo, pois afinal, sou um profissional a serviço da imagem, tenha ela o grão macio e redondo do TMax ou a ranhura indigesta do pixel.

Contudo, a reflexão pousa sobre o tempo e a memória. O reflexo da ponte Vecchia sobre as águas do Rio Arno que transmuta conforme a luz do sol e das lâmpadas de sódio (ainda, felizmente) e testemunha há séculos o caminhar da humanidade, o renascimento, a guerra, a pandemia. A cidade imortal parece não se importar com a ansiedade dos turistas em postar logo suas fotos, mostrando as suas audiências que estiveram lá, pisando o mesmo chão que Caravaggio e Galileu pisaram.

Qual a diferença entre trazer 6 ou 6 mil fotografias de uma mesma viagem? Milhares de imagens e vídeos são capazes de construir uma memória enquanto cientistas comprovam que a memória humana precisa de sentimentos que amarram os fatos e os guardam em algum lugar do cérebro?

Não sei responder. Mas posso dizer que esse punhado de fotografias desfocadas abre uma janela de onde narro a minha própria versão dos lugares que pisei, completando com ideias e outras sensações para criar uma história que me diz muito mais do que "estive aqui".




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