O Fiat 500 está para os italianos assim como o Fusca está para nós, brasileiros, e o Mini está para os ingleses. É um símbolo de afeto e pertencimento que arranca sorrisos e suspiros saudosos por onde passa. Todos têm versões mais modernas, que ganharam em tecnologia e espaço, mas não mantiveram o mesmo carisma.
Sempre que vejo um desses carros, junto com a nostalgia vem um espanto: a vida cabia num Cinquecento (ou num Fusca)! Hoje, nem as SUVs conseguem transportar toda a tralha que carregamos para viver.
Uma vez visitei La Chascona, a casa onde Pablo Neruda viveu em Santiago. Transformada em museu, a casa mantém a arrumação original, como se ainda fosse habitada: mesa, cadeiras, talheres dispostos e prontos para receber a elite intelectual da América Latina dos anos 50 e 60. Fiquei surpreso ao notar que os objetos eram muito menores do que estamos acostumados hoje em dia (o garfo de jantar parecia um de sobremesa atual), o que me levou a refletir: “As coisas eram menores, mais simples, e talvez por isso o mundo parecesse muito maior.”
Percebo, com isso, um grande paradoxo: enquanto entulhamos nossos lares com TVs enormes e camas king size, e nos esparramamos pelas ruas da cidade com nossos carrões, vivemos cada vez mais apertados. A vida moderna nos comprime num mundo onde cabe cada vez menos gente e coisas, e nos esprememos no tempo para conseguir pagar por tudo isso.
Comments