Quando os deuses se disfarçavam de montanhas, rios e mares para caminhar entre os mortais, as pessoas elas olhavam para a natureza com admiração e respeito, pois o sagrado estava diante dos olhos.
Um dia os deuses subiram para o céu e lá criaram uma nova hierarquia. Agora não havia mais deuses, mas sim um só, distante da Terra e da humanidade, sentado num trono, julgando homens e mulheres conforme regras — criadas mais por homens do que por mulheres. O sagrado fugiu aos olhos e o que restou diante deles passou a ter uma utilidade, um servir. A humanidade se afastou da natureza, criou muros e cidades para se proteger dela e hoje a observa distante com o desprezo de ser meramente um recurso natural a ser explorado.
Uma vez, ouvi os pensamentos altos de um barqueiro (bem podia ser banqueiro) num rio no Pará — “se eu pudesse levar essas pedras para Santarém, faria um bom dinheiro com elas”. Diante da catástrofe e do colapso da civilização que construímos em separado, estamos agora nos perguntando “onde foi que erramos”, quando a resposta é óbvia.
Claro, há os que negam. Seja por oportunismo e interesse em continuar destruindo e poluindo, seja por negacionismo puro. A negação é o primeiro estágio do luto e junto com a raiva fazem o sujeito se apegar com todas as forças àquilo que gostaria que ainda existisse.
Na cosmovisão dos povos originários mundo a fora, a Terra sempre foi um ser vivo e a humanidade apenas mais uma camada entre outras tantas. Conclusões a que nós, caras-pálida, finalmente chegamos há uns 40 anos atrás (não sem antes mudar Pachamama para Gaia), um pouco tarde talvez, porém ainda em tempo para evitar a fúria castigante dos deuses (tive que apelar um pouco, porque tem gente que só entende assim).
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